VIII
 

A evolução do homem ancestral impôs modificações que o divergiam, progressivamente, da espécie que o originou. E dessa forma enquadrava-no no meio em que passaria a viver.

Entretanto, essas modificações logo tomaram o rumo no sentido do seu desenvolvimento intelectual, e que o faria, assim, modificador desses mesmos ambientes.

Foi assim que, esses primeiros ancestrais, conseguiram chegar aos estágios iniciais que os propiciaria desenvolverem instintos superiores.

Essas mentes emergentes que por condições já vistas, libertavam-se da carapaça muscular excessiva, as quais também possuíam todos os demais seres instintivos, pois as necessitavam para suprir uma dependência a um cérebro irracional, detinham agora a primazia no conjunto do novo ser.

Era, portanto, sua parte mais nobre e dela, de agora em diante, é que sairiam os estímulos necessários para todas as suas ações. Sendo que, inusitando no mundo animal, estas ações eram, a partir de então, "guiadas" por um comando intelectual.

No início de sua formação, restringia esses comandos a estímulos para acionar habilidades físicas, especificamente o manejo na confecção de objetos. Essas habilidades ocasionariam na capacidade mental, estimulando-o cada vez mais o raciocínio e a facilidade em aprender e reter esse conhecimento. "Espremidos", vamos assim dizer, entre esses instintos superiores, áreas maiores de lucidez abriam caminho na massa cinzenta desse novo intelecto, que surgia e desenvolvia-se nesses longínquos ancestrais, e que dessa forma, progressivamente, como vimos, aumentava também sua capacidade de raciocínio e aprendizado. Fazendo desses conhecimentos que adquiria, intercâmbio para a formulação de idéias novas, e dando a possibilidade a esse cérebro de inusitar.

Para uma melhor compreensão do que acima foi dito, daremos um exemplo: vamos nos transportar para um determinado período na pré-história, que imaginaremos coincidente com as situações que descrevemos e que agora tentaremos compreender melhor. Compreensão essa concernente a aspectos do desenvolvimento cerebral do homem ancestral.

Participaremos de uma incursão de caça com esses primitivos seres. Veremos, então, que se destacando do total do grupo, alguns indivíduos possuíam uma habilidade incomum com suas lanças em acertar a uma determinada distância as caças; ao passo que outros não possuindo tal habilidade, observavam. Os habilidosos com suas rústicas armas possuíam uma forma superior e derivativa de um instinto anterior, e que assim poderíamos chamar, essa derivação, como sendo uma habilidade natural e específica, que possuíam alguns desses seres.

Como um animal selvagem que cegamente sempre acerta sua presa, esses caçadores primitivos também acertavam sua caça de forma implacável. Todavia que, pelo desenvolvimento em que se encontrava a espécie humana, esse instinto cego do ser irracional, era no homem caçador, pela forma como foi por ele alcançado e por suas próprias características novas, uma derivação superior desse mesmo instinto cego e irracional, mas que, tirante a emergente lucidez de nossos caçadores ancestrais, e medindo-se na proporção do grau de suas dificuldades, esses dois seres predadores nessa determinada área, se eqüivaliam.

Continuando nosso exemplo, veremos que a caça, antes abundante e agora, por determinados motivos, começava a rarear e ficar arisca , passando assim, ao largo dos caçadores, que para acertá-la teriam como meta um alvo bem mais reduzido. Vieram então, suceder-se dessa forma, erros atrás de erros, por parte desses indivíduos, outrora habilidosos, no acertar com suas lanças a nova disposição em que se encontrava a caça. Por mais que fizessem não conseguiam aprumar sua pontaria ao novo e restrito alvo. Comprometendo com o passar do tempo, a própria sobrevivência do grupo, pois todos dependiam desse alimento. Aconteceu que, nas novas tentativas constantes que faziam para capturar a caça, e que, todavia, não obtinham sucesso, um dos elementos do bando, que como dissemos, por ser desprovido do talento para caçar, ia na disposição de outras tarefas. Observando assim, a dificuldade dos caçadores e comparando-as com as das incursões iniciais, quando não havia dificuldades no acertar a caça. Notou o tamanho e características de suas lanças, e que não mudavam, concernentes a profundidade do seu alcance. E, da mesma forma, o esforço empreendido para lançá-las. Depois de bem observar tudo isso, clareou em sua mente, a idéia de uma nova arma que poderia atingir a mesma presa a uma distância bem superior às antigas lanças e com um grau maior de facilidade. Vamos então, a possível invenção do arco e flecha, artifício bélico sucessivo às antigas lanças.

A conseqüência dessa idéia que gerou uma nova arma, no momento não vamos nos ater, mas sim na essência de nosso exemplo. Concluiremos que: com sua imaginação esse indivíduo destituído de qualquer talento específico, garantiu a sobrevivência do seu grupo, com invenção da nova e eficaz arma. Novamente chegamos, e de uma forma mais elucidativa, ao ponto que tínhamos proposto alcançar; agora porém, de uma forma mais sucinta: em que condições provavelmente encontravam-se o homem ancestral, concernente à listagem de seu desenvolvimento cerebral, ponto convergente em que pendia toda a evolução do ser, quando da descoberta prática do fogo?

Frisa-se, então, a importância do artifício imaginativo que alcançou esse intelecto emergente, percebendo-se, ao certo, que foi através dessa prodigiosa prerrogativa mental, que tanto nos distingue dos demais seres, que "empurrou" nossos antepassados naquela direção.

O homem ancestral alcançou esse grau intelectual superior, que como já vimos, referente a sua etapa evolutiva no sentido em que era elaborada ao correr do tempo a nova espécie, em uma relação da qual sua estrutura física era indiretamente proporcional ao seu condicionamento intelectual; por conseguinte, a vestimenta muscular óssea e as armas naturais que evoluíam nos demais seres instintivos, até então, passassem com a sua evolução a terem um lugar secundário no seu desenvolvimento geral, e que, devido ao direcionamento para onde "trilhava" essa mesma evolução, fazendo, então, com que seu tecido cerebral se organizasse e elaborasse progressivamente em detrimento de sua armação corpórea. Sua importância se reduziria na medida em que "caminhava" esse desenvolvimento na unidade da raça, compreendido como sendo obtenções evolutivas da espécie ao longo de sua trajetória no tempo; fazendo do seu corpo um mero veículo para sua mente, que o direcionava a caminhos nunca antes trilhados e alternativas também nunca antes deparadas.

Dessa forma, não mais possuía o ser um arcabouço físico, como têm as demais espécies primitivas, para suportarem a direção imutável que dão a essas mesmas espécies, seu comando meramente instintivo. Consequentemente, precisando esses cérebros do respaldo de uma forte estrutura física e da mesma forma, inseridas nela, armas naturais para enfrentarem a natureza no combate direto e franco em que se digladiam.

Fazia-se necessária em sua vestimenta corporal, grossas peles para defenderem-se do frio e da chuva, e, da mesma forma, chifres, mandíbulas poderosas e cascos ágeis para defenderem-se ou atacarem na sua luta pela sobrevivência.

O homem com o abismo que o desenvolvimento intelectual o separou desses seres, conseguiria pelo artifício que lhe proporcionou esse mesmo intelecto, eliminar essas armas naturais, reduzindo assim, seus membros e comandos secundários para suas novas ordens cerebrais, as quais dariam a eles na junção com os demais artifícios criados por seus cérebros, forças desproporcionais.

Não seria mais esse corpo, então, um mero escudo para um comando instintivo, antes sim, um intermediador para executar uma ordem mental elaborada.

Nos seres não guiados pela razão, o fator conjunto: comando – ponto terminal desse mesmo comando está inserido no próprio ser, já o mesmo complemento, comando ponto terminal, em cérebros lúcidos podem não estar associado intrinsecamente. Sendo assim, nos seres racionais o efeito pode ocorrer distante da causa, divergindo dos irracionais que para o mesmo efeito ocorrer teriam necessariamente um contato direto do ser que emitiu o impulso ordenado com o objetivo que queria acertar.

Suas armas, portanto, são suas terminações naturais, com raras exceções.