XV
 

Os seres irracionais, como já vimos, recebem ao nascer de seus ascendentes um mapa mental e instintivo que os condiciona a transitarem na natureza. Por isso, pelo primitivismo dessa herança é que logo se tornam adultos. Sua mente, então, nascendo, quase que pronta, obriga o ser a desenvolver rapidamente seu corpo para acompanhá-lo e protegê-lo.

Depois de um rápido aprendizado esse primitivo ser já está apto a sobreviver sozinho. Sua progenitora em curto espaço de tempo lhe ensina as bases dos rudimentares métodos que a sua espécie utiliza a milênios para sobreviver, logo após ter saído de uma gestação a qual foi também de pequena duração.

Tudo o mais que precisar saber para conseguir sobreviver ele já recebeu ao nascer, na forma da herança condicionada, espécie de código memorizado e instintivo.

Então, em um prazo relativamente pequeno, se comparado na proporção com o próprio espaço da vida desse ser, desvincula-se de seus progenitores e torna-se, assim, independente. Não necessitando mais, essa prole, de um acompanhamento maior por parte de seus pais.

Essa pouca dependência do ser instintivo, tornamos a dizer, ocorre também pela pouca complexidade que caracterizam suas espécies. Saindo de uma curta gestação com os caminhos que irá trilhar no ambiente natural, traçados desde o nascer em sua mente; tornando-o, vamos assim dizer, marionete das aquisições herdadas por sua raça, as quais nada mais são do que aquisições que os possibilitem a sobreviver no mundo natural. Anulando-o, dessa forma, como unidade própria, alienando-o à maneira de evoluir do conjunto de sua espécie.

O ser, então, como unidade, pouco faz no período da sua vida para o desenvolvimento da sua raça. Ficando condicionado às modificações dela e dessa forma, consequentemente, condicionado também a adaptação ao ambiente.

Um ciclo forma-se que se perpetua na razão direta ao meio, razão essa no sentido, como falamos, de sua mutabilidade ao ambiente natural.

No homem, na maneira como foi conduzido seu desenvolvimento evolutivo, dando ênfase crescente ao aperfeiçoamento do seu cérebro, esse ciclo de dependência ao ambiente, por condições que anteriormente analisamos, foi rompido. Liberando-o de uma dependência a esse mesmo meio. Sendo assim, ele, ao contrário dos outros seres, modificava a partir do desenvolvimento que aquelas condições lhe vieram a propiciar, o ambiente natural ao invés de modificar-se através de mutações físicas.

Assim sendo, tornou-se ao conseguir dominar o seu meio ambiente um ser complexo e singular.

Como vimos então, a maturação desses seres ao nascer, maturação essa no sentido de seu crescimento integral, desde seu nascimento até sua fase adulta, teria que, pela complexidade do próprio elemento que estava sendo gerado e que assim, fazendo novamente uma abordagem resumida, demandaria todo um processo único nesse início de sua formação como indivíduo, rompendo uma nova aurora na sua escalada progressiva de elaboração em toda a face do planeta, para que as potencialidades implícitas no seu molde genético e que tão arduamente sua espécie conquistou através de gerações no tempo, e que agora lhes transmitia, fazendo assim, desde pequeno ancestral nosso que nascia, um adulto que plenamente potencializou as características singulares que herdou da espécie.

Para isso ocorrer, toda uma infra-estrutura social teve que ser evoluída conjunta e paralelamente às conquistas que a evolução do conjunto da raça conseguia para seus indivíduos.

Esses avanços sociais teriam então que ser, em outras palavras, paralelos à evolução em que se processava o próprio ser.

Por conseguinte, eram e teriam que ser então, interdependentes essas duas formas de evolução que agora se conjugavam: a social e a física. No sentido em que o processo em que se dava à formação de um indivíduo era o mesmo em que se processava todo o grupamento humano.

Todavia, esse conjunto interdependente, agora, indispensável para a nova e complexa elaboração dos indivíduos da espécie, surgiu por imposição dessa mesma complexidade alcançada por essa espécie na sua constante e progressiva evolução.

Compreendemos também o valor desse conjunto que passaria a "fermentar" as características da raça do indivíduo, fazendo-as valer, potencializando-as ao máximo, e consequentemente, fazendo do ser quando indivíduo adulto, componente importante como formulador de novas conquistas para a continuidade da evolução da sua raça.

Dessa forma, chegaremos à conclusão de que a partir desse ponto na escala de seu desenvolvimento, o ser e sua espécie formariam com a paralela evolução social, um tripé indissociável e interdependente no prolongamento do seu desenvolvimento.

Seguindo a lógica da confluência dessa evolução no homem antepassado, naquele dado momento de sua caminhada desenvolvimentista, seremos forçados a nos curvar a evidência da efetiva e confluente participação do indivíduo como centro principal e causador dessa nova revolução, em que passou a processar a evolução na moldagem geral da futura espécie humana.

Sendo assim, a antiga moldagem majoritária que ditava o seu forjamento geral, tendo como referencial a seleção baseada em suas características majoritárias, teria agora um início de inversão com a crescente e necessária efetivação da individualidade como ponto confluente de todas as conquistas que os diversos referenciais e suas seleções, compreendidas como os mantenedoras do avanço e da unidade do perfil da raça, se faziam sentir mais na dependência dessa nova individualidade dentro do conjunto da espécie.

O tripé, então, desenvolvimento social; desenvolvimento estrutural da espécie; e desenvolvimento do indivíduo, penderia mais no sentido do último, potencializando-o.

Consequentemente, todo o processo em que inseria-se a evolução desses seres inverteu-se, no sentido em que agora o próprio indivíduo, explorando as potencialidades que sua espécie concedia-lhe e sendo respaldado pela paralela e imprescindível evolução social, teria condições agora de contribuir e influir no avanço progressista dessa própria espécie, a partir de suas iniciativas individuais.

Assim sendo, o corpo do indivíduo deveria acompanhar essa maturação mental do ser em crescimento, desenvolvendo-se também lenta e paralelamente ao seu desenvolvimento intelectual, evitando com isso uma desarmonia entre corpo e elaboração cerebral do ser, se assim fosse, um possível desequilíbrio no seu comportamento integral.

Convém lembrar, no seu aspecto puramente físico, a proporção do tamanho ao nascer do cérebro humano em relação ao seu corpo, comparando-se com as medidas do conjunto do ser na fase adulta, lhe eram desproporcionais em relação ao seu corpo e assim seria durante todo o crescimento do indivíduo e sua estrutura craniana.

Assim, enquanto crescia integralmente essa estrutura craniana, pouco se desenvolveria fisicamente. Podemos deduzir que seu desenvolvimento dava-se muito mais no âmbito interno, entendendo como sendo o produto da maturação biológica de suas células nervosas, legadas pela hereditariedade de sua raça, que dessa forma, paralelamente às condições sociais que evoluíam, propiciavam e integravam esse lento crescimento biológico hereditário, de forma conjunta. Como inicialmente dissemos, os primeiros estágios de formação de sua mente, advindos de estímulos externos que durante todo esse processo de elaboração formatória o novo ser iria incrustando lentamente, em concordância com o também lento crescimento de sua estrutura orgânica e física, em sua massa cinzenta que assim desenvolvia-se, e que da mesma forma, em consonância com esses caracteres externos que o ser adquiria e incorporava, nesse mesmo sistema biológico neural, que acima falamos, iam tornando-se nítidos os primeiros contornos, do que seria o conjunto – cérebro mente - desse indivíduo que se formava. Sendo que, na fase adulta quando teria a integralidade biológica dessas partes agora indissociáveis, dar-lhe-ia a personalidade, tornando seu ser mais distinto dentro do conjunto dos grupamentos humanos.

Dessa forma, suas ações futuras seriam reflexos da maneira como foram elaborados nesse mesmo período de formação.

Vimos aqui então, de maneira sucinta, a necessidade de exigências que o cérebro pré-humano necessitava na formação de um novo indivíduo.

Falamos nesse pequeno ensaio, como seu próprio nome diz, aspectos sobre a evolução do homem. É, porém, uma pequena parcela perdida na vastidão do tempo.