XIV
 

A evolução, a partir de certa etapa da organização do cérebro humano, fez com que esse órgão passasse, conseqüência de uma menor dependência com o meio, a ter uma dependência menor com o seu corpo estruturando-se no sentido de servi-lo basicamente, poderemos assim dizer, como uma plataforma móvel.

Sendo assim, pelos ajustes que os diversos referenciais orientavam a evolução da espécie nessa etapa de sua elaboração, e consequentemente orientavam também a sua forma de seleção no sentido do aperfeiçoamento desse mesmo órgão, "linha" maior da evolução, faz-se acreditar que sobreviveriam e que deixariam descendentes, os seres dessa raça que mais intelectualizados fossem, pois estariam, dessa maneira, mais aptos à nova forma de viver inserida no conjunto forjador do perfil dessa espécie.

Os cérebros que mais nasceriam seriam os que fossem mais elaborados, onde os impulsos instintivos fossem os mínimos e as regiões condicionadas de seu cérebro se restringissem, basicamente, a manterem o organismo do ser funcionando.

Ele teria, então, ao nascer, áreas cada vez maiores e originalmente inativas em certos setores desse mesmo órgão, que seriam concedidos pela hereditariedade evolutiva e selecionadora da raça.

Essas áreas inicialmente inativas, a que nos referimos, seriam a contribuição genética da evolução da espécie para formação da individualidade do novo ser, e que, na longa maturação desses setores, sem ter um sentido originariamente no cérebro desse ser, acabariam, se bem desenvolvidos, por lhe dar quando na fase adulta, sua complementação mental e sua personalidade.

O homem, no seu constante desenvolvimento, objetivo principal da sua evolução, que caminhava na direção do seu aperfeiçoamento intelectual, conseguiu estruturar em seu cérebro, órgão que dava sustentação a essa intelectualidade, através das transferências genéticas constantes entre as gerações, sentidos inusitados nele.

A "grosso" modo e de uma maneira excessivamente simbólica e simplista, utilizada na comparação explicativa que tentaremos fazer para darmos uma noção do que entendemos por avanços evolutivos no cérebro humano.

Sua dependência hereditária às características adquiridas pela raça, seu desenvolvimento a partir do nascimento, que pela própria dependência, que acima falamos, as conquistas genéticas da espécie, o propicia a uma formação independente e individualizada desse conjunto atávico que até aí o prendia ao perfil da sua espécie.

Dessa forma essa dependência, no sentido de sua complementação mental, se daria agora, e se faria sentir na sua maturação, até a fase adulta da maior ou menor evolução de seu meio social.

Assim sendo, então, o cérebro ancestral poderia, ao nascer, comparar-se a um poderoso computador, vamos assim dizer; todavia, desprovido de programação ou memória, além de seus sinais mantenedores da vida.

Porém, para bem entendermos o simbolismo dessa comparação, teríamos que forçosamente tomarmos como referencial, cérebros de animais primitivos, que seriam no nosso exemplo, também ao nascerem, comparáveis a pequenas calculadoras, porém que, já vindas totalmente programadas.

Dessa maneira, aptas para logo iniciarem sozinhas suas monitoradas perambulações na natureza. Todavia, seguindo o simbolismo do exemplo, sem jamais fugirem ao restrito programa embutido na pequena calculadora.

O intelecto humano, ao contrário dessas espécies irracionais, teria que passar por um período bastante longo para maturar e formar seu próprio programa básico, que lhe plasmaria a consciência e sua vontade racional, em seu poderoso computador, que, seguindo nosso exemplo, veio sem programação.

O poderoso computador seria, então, na comparação com o cérebro humano, produto que a evolução da espécie lhe legou ao nascer por hereditariedade, proporcionando com isso, desvincular-se a partir de seu nascimento, da unidade atávica do conjunto formador de sua raça. E, dessa forma, iniciar uma individualidade a partir de estímulos externos.

A estrutura cerebral ganha geneticamente e, vinculada ao todo evolutivo da espécie, daria agora ao novo ser desde seu surgimento, as condições de dissociar-se desse bloco hereditário, moldura do perfil do conjunto desses seres, e a partir dessa concessão, poderíamos assim dizer, para com esse órgão, e a conseqüente formação da sua individualidade alterar com essa mesma individualidade o próprio conjunto da espécie.

Já os seres primitivos, como vimos, nascidos condicionados e prontos, representados no nosso exemplo pela pequena calculadora programada, continuariam condicionados a esse ciclo hereditário que recebiam de sua espécie ao nascer, sem que fatores externos rompessem ou alterassem esse ciclo, e consequentemente, alterando também a conduta de modo então individualizada dos elementos dessa espécie primitiva.

Falamos até aqui sobre a evolução do cérebro humano a partir de seus primeiros ancestrais. Contudo esse desenvolvimento acima exposto nos é entendido como sendo aquisições que a nova raça ia incorporando durante o caminhar de sua evolução. Entendendo, todavia, que não queríamos abordar com que acima dissemos, sobre a formação intelectual desenvolvida na maturação de um indivíduo.

Compreendendo-se por essa maturação, como sendo o crescimento físico e mental do ser até a sua fase adulta, mas, antes sim, queríamos frisar a própria evolução da espécie como um todo, no seu desenvolvimento através das gerações. Agora sim, de modo mais específico e que passaremos a ver como esse desenvolvimento adquirido por ela era assimilado na formação de um novo indivíduo.

Veremos então, de que maneira essas novas características formadas pelo conjunto da espécie, no seu correr evolutivo e, em conseqüência, transmitidas de geração em geração através da hereditariedade e fixadas, como dissemos na fase de crescimento do ser. Entendendo-se por essa condição de crescimento do indivíduo que se formava, como sendo também uma condição das próprias conquistas da espécie.

Todavia, essas mesmas conquistas, arduamente adquiridas no tempo por essa nova raça, tinham como berço criador, a partir de agora, o próprio processo envolvido nesse crescimento em que se formava na sua integralidade um novo indivíduo, processo esse, indissociável da nova espécie, pela maneira singular em como desenvolvia-se a forma de evoluir do ancestral antepassado, e por isso, indissociável também, da formação desse mesmo indivíduo, que agora passaria a assimilar por concessão hereditária, adquirida por sua raça e, lhe transmitida desde seu nascimento, fatores externos a sua formação, desenvolvendo dessa maneira, até a sua fase adulta uma nascente individualidade no seio da espécie.

À medida que sua evolução proporcionava-lhe novas e sofisticadas capacidades intelectuais, teria ele da mesma forma, que modificar sua própria formação, compreendida como sendo a capacidade de sua espécie em reunir condições para bem elaborar esta fase nova em que formaria a individualidade de seus elementos: do nascimento à fase adulta.

Dessa maneira, um abismo passaria a separá-los dos seres guiados somente pelo instinto.

Os avanços conquistados teriam pela nobreza de seus propósitos futuros, conseqüências no desenvolvimento de toda a raça. E, mesmo pela sofisticação em que tinham chegado, necessitando de um período bem maior de maturação durante seu crescimento integral na formação do indivíduo.

Pois, esse mesmo indivíduo ao nascer, teria que assimilar, a partir de estímulos externos, todas essas aquisições hereditárias que sua raça acumulou no tempo, e que agora lhe legava. Sendo assim, condicionaria esse ser a propiciar no próprio crescimento os valores equivalentes a essa herança evolutiva superior. Germinando desse modo, em cima dessa transmissão atávica, a complementação de sua individualidade, a partir de maneiras voltadas a obter as totais condições para essas heranças genéticas superiores desenvolverem-se plenamente todas as suas potencialidades até chegar a fase adulta do ser.

Por conseguinte, precisaria de tempo a espécie para ver germinar e consequentemente florescer em seus indivíduos adultos essas novas conquistas. Pois da correta maturação delas é que a espécie e a geração que viria, propiciando novos avanços no delineamento de seu próprio perfil, conseguiriam as condições para novos saltos na sua evolução.